segunda-feira, 29 de outubro de 2007

GNR(S)

Quem ler o título deste post vai pensar à partida que enlouqueci, afinal o que é que posso ter para dizer sobre a GNR tão interessante que dê um post?
Há uns dias vinha de Aljezur para Lisboa e encontrámos a GNR. Em Timor durante 7 meses encontrei também várias vezes a GNR. Ora, eu não quero dizer mal da nossa Guarda Nacional Republicana, apenas sublinhar algumas particularidades.
Quando cheguei a Timor e ouvi pelas primeiras vezes falar sobre os GNR's, não consegui associar o tipo de descrição a nenhum GNR que alguma vez tivesse visto em Portugal. Falava-se de homens musculados que passavam o tempo a fazer exercício físico, extremamente violentos e agressivos, que andavam pelas ruas de Dili e pela praia em bando, que enchiam a única discoteca de Dili nas noites de fim de semana vestidos com t-shirts de alças justíssimas e calças igualmente justíssimas. Tão justas que um dia um amigo meu irlandês me perguntou se em Portugal só tinhamos roupa para homem de tamanho para criança… segundo constava nessas saídas à noite a forma de dançar era em grupo e com movimentos característicos, onde os pés tinham um papel limitado e os braços… bem, esta descrição não interessa mesmo nada!
Circulava ainda a informação de que entre GNR's e professoras existiam muitas amizades e que os portugueses GNR's eram bastante cobiçados e apreciados pelas australianas.
Mais tarde pude verificar que tudo isto correspondia, em maior ou menor grau à realidade. Fiquei acima de tudo surpreendida, nunca em toda a minha vida tinha conhecido GNR's assim, era uma novidade.
Já em Portugal encontrei novamente a GNR, numa operação stop em Sines. O Sr. Agente pediu-me educadamente os documentos do carro e os meus, posto isto começa às voltas ao carro, a observar tudo atentamente, demasiado atentamente. Não por zelo, mas sim como quando nos querem oferecer uma multa mas não sabem como.
“De onde vêm? Vieram de férias ou em trabalho?”
“Trabalho, viemos ao tribunal de Lagos”
(Tenho que confessar que não fui eu que dei esta resposta, é que a minha destreza de raciocínio nestas situações nunca foi brilhante).
A partir do momento em que o Sr. Agente julgou que estava perante um carro cheio de advogados, a atitude alterou-se completamente. Abriu um sorriso, começou a falar do tempo e não olhou mais para os documentos. De repente tornou-se simpático! E continuou a falar, a falar, mas foi sobretudo a parte final da conversa que achei estupenda:
“Anda para aqui uma pessoa a trabalhar que se farta! Ontem saí às 9 da noite e hoje vim pegar às 10 da manhã, já não fazia isto aos anos! Estou ao tempo lá na esquadra num cantinho à espera da reforma e nada! Está uma pessoa ali sossegadinha no canto e agora aumentam a idade da reforma, já viram, não há direito!” e continuou a insistir no cantinho e na reforma…
Naquele momento, por todos os motivos, tive a certeza que estava em Portugal!

4 comentários:

carla alexandra vendinha disse...

ohhhhhhh então não te "altoou a biatura"?

Anónimo disse...

prevericou o traço longitudinal levando à caçassão da carta e a altoar a viatura .

Paulo L. disse...

Acho que os portugueses só se revelam verdadeiramente quando estão fora de Portugal...é só uma opinião.
E quanto às queixas do gnr que coitado está à espera da reforma no sossego do seu canto, o que dirá o meu pai que com 56 anos já descontou mais de 40 anos e ainda tem de trabalhar mais 10 anos na indústria de moldes plásticos se quiser receber uma reforma digna....e eu a pensar que a sociedade de classes era uma coisa dos livros de história.
Obrigado pela visita ao meu blog

Rita. disse...

O que não gostei naquela situação foi a mudança de atitude do Sr.

A conversa sobre o canto e a reforma acho que era escusada, as pessoas adoram queixar-se, mas devem fazê-lo ou nas instâncias próprias ou quando as circunstâncias são adequadas, e aquela não era a situação adequada.

Não expressei a minha opinião acerca do aumento da idade da reforma nem da injustiça que isso é para alguns, limitei-me a transpor para texto aquela situação, literalmente, tal e qual como aconteceu.

Quanto à sociedade de classes, não desapareceu e infelizmente, sem querer ser pessimista, não acredito que algum dia tal aconteça.