domingo, 5 de outubro de 2008

Angola

Depois explico... não chegou a ser Kabul, antes foi Angola e agora de regresso a casa.
Voltas muito estranhas da vida, quase sem explicação, sobretudo porque deixei este blog ao abandono, sem nada dizer. Desculpem.


sábado, 5 de julho de 2008

Se a minha vida fosse um filme...

… seria uma comédia romântica sem a parte romântica. Uma comédia negra, sem a parte da comédia. Um drama de ir às lágrimas, mas com final feliz. Uma obra de ficção científica onde a personagem principal está em 3050 mas pensa que está em 2008. Um filme de terror série B onde ninguém chega a perceber quem é a vítima. Uma produção pseudo-intelectual sobre um novelo de lã cheio de nós, pontas perdidas, pontas achadas, fios partidos, fios duplos, enrolado noutro novelo de lã que ninguém percebeu que também lá estava.

E nestes últimos 2 dias é tudo isto e mais alguma coisa que eu me tenha esquecido. Não sei se hei-de rir, chorar ou fugir. Tenho vontade de tudo e de nada.

PS - Este post é uma desabafo, é pois é.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Dia 8...

... tenho que lá estar (o "lá" é em Kabul...).
Não vou esconder que tenho alguns sentimentos contraditórios em relação a esta experiência, mas estou pronta. E uma nova história começa... no Afeganistão.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Da imaginação

A minha mãe diz que não teve filhos homens e machos para irem para a tropa, mas que nasci eu e estraguei toda a teoria de que iria viver descansada sem ter que prestar atenção a notícias de países terminados em “ão”, como Afeganistão.
Eu disse-lhe que não há problema porque já visualizo a minha nova vida em Kabul: iniciarei uma revolução nas burqas, criarei o “kabul fashion week” e as mulheres passarão a poder mostrar os tornozelos e os pulsos.
Entretanto andarei inserida numa qualquer coluna militar a colar posters para convencer os talibans a irem a votar e que a democracia é um sistema fantástico e extraordinário. Vou conhecer talibans, vamos tomar chá e comer tâmaras, falar sobre a vida e no fim vou escrever um livro. Vou ficar milionária e vou dar entrevistas à TVI.
Melhor que isso, enquanto andar por aqueles desertos onde serei a 1ª mulher a por os pés, vou encontrar na imensidão o meu manel. O meu manel será um sueco de 1.90m, lindo, extremanente inteligente e com uma adoração sem limites pela minha pessoa. Vai socorrer-me numa qualquer situação de apuro. Iremos de férias para as Seychelles e vou poder tomar muita água de côco. Vou dedicar-me à maternidade e até posso ficar pelas Seychelles a vender água de côco na praia com o meu manel sueco e os meus 6 filhos. Prole em número suficiente para formar uma equipa de andebol sem suplentes que o meu manel sueco com um qualquer nome terminado em “sson” vai treinar nas horas vagas da venda da água de côco. Claro, não voltarei de férias das Seychelles.
A minha mãe vai dizer que nunca pensou que eu fosse do inferno para o paraíso, mas vai ficar feliz. Os meus pais entretanto vão reformar-se e como o custo de vida vai ficar insustentável em Portugal e a gasolina vai chegar aos 4.50e por litro, vão decidir se vão viver para Serpa, plantar umas oliveiras e tentar o negócio do azeite e dos enchidos de porco preto ou se vão viver para as Seychelles, onde o negócio de água de côco da filha e do genro de nome esquisito, cresce a olhos vistos, nesta fase já com produção industrial exportada para os vários continentes. Vão decidir-se pela 2ª hipótese. A minha irmã fartinha de estar em casa sozinha vai atrás. O Boris (o nosso cão encontrado na feira de Carcavelos) vai também decidir-se pelas Seychelles. Alguns amigos vão querer ir visitar-me e vão ficar. Primos também. Se calhar tios.

Conclusão: depois do Afeganistão vou de férias para as Seychelles. Quem quiser pode vir comigo.

PS - Este deve ser o post mais idiota que escrevi até hoje.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A vida não espera...

... e às vezes começo a sentir-me tonta, às vezes não sei se escolho os caminhos certos, o chão foge-me debaixo dos pés, mas continuo…

Faz 3 semanas que cheguei do Nepal e na 1ª semana de Julho vou partir para o Afeganistão. Foi uma surpresa mas aceitei. Não sei muito bem o que me espera, não me sinto assustada mas neste momento gostava de ficar mais algumas semanas em Portugal. Tinha saudades… gosto muito do meu país no Verão. E gosto muito do nosso oceano Atlântico. Saudades do sol de Portugal, da comida da minha mãe, do peixe e do marisco, das papoilas vermelhas nos campos do Alentejo nesta altura do ano. Saudades de pessoas.

E cada vez sei menos se quero uma vida feita de despedidas e recomeços. De realidades que terminam onde outras começam, que as vezes se cruzam sem sentido, de pessoas que passam mas não ficam, de amizades que crescem tao fortes que o vazio que deixam e insuportável, porque as distâncias não ajudam e eu preciso de proximidade física, de ver, de olhar, de tocar. Uma vida feita de sorrisos que nunca mais vou ver, de crianças que se cruzam no meu caminho, que quero levar comigo, dar banho e educação mas que sei que nunca vou poder fazê-lo, de realidades limitadas no tempo e no espaço, que se tornam irreais porque são dispersas e descontinuadas.
Um dia vou ter que decidir.

Até lá o mundo e grande.

domingo, 8 de junho de 2008

O post sem título

Porque não consigo encontrar um e porque só quero dizer 3 coisas:

A.) Já estou em Portugal e cheguei doente; nada de grave, só não me sinto realmente bem e não tenho tido vontade de aqui escrever seja o que for.
B.) Este blog não morreu. Foi de férias umas semanas. Vou escrever de novo, seja lá o que for, mesmo sem interesse, mesmo entediante, eu vou escrever… o blog continua vivo.
C.) Quero pedir desculpas a todos os que aqui vieram durante este mês e uns dias e tiveram que olhar vezes e vezes para a mesma fotografia. E que mesmo assim continuaram a deixar-me mensagens. Mil vezes obrigada e desculpem
.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

sexta-feira, 25 de abril de 2008

25 de Abril

25 de Abril que aqui ja e 26. Mas, nao importa porque e Abril, o da Revolucao.
Porque muito esta mal, porque a corrupcao, o nepotismo e o coorporativismo continuam, as vezes ate o lapis azul. Porque ha tanto para mudar, porque estamos no fim de todas as estatisticas da UE, porque, porque... ainda assim valeu a pena, por tanto.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

...

Esta menina de 7 anos de idade parecia ter 40... carregava o irmao de 3 anos ao colo e nao o largava por um segundo... irma, mae, avo e o que mais for preciso no Nepal perdido das montanhas e das colinas.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

France?

Desde que cheguei ao Nepal ha uma pergunta que ja me fizeram vezes e vezes. A resposta e sempre a mesma e a reaccao tambem.
Ao banal “where are you from?”, a resposta e “I am from Portugal”, ao que recebo sorrisos completamente perdidos no mapa e nem sequer sei se perdidos pelo continente certo. As vezes acrescento um “next to Spain”, mas nunca cheguei a perceber se ajuda ou nao, pelo que nos ultimos tempos ja nao acrescento nada.
Aconteceu 3 vezes ter a reaccao “oh, Ronaldo, Ronaldo!”, o que sendo o criquet o desporto mais praticado e que agrupa maior numero de interessados neste pais, ate e um feito. Nao vale a pena falar da questao de so conhecerem o Ronaldo e de so sermos falados por causa do futebol, se calhar e melhor que nada, nao sei, mas devo acrescentar que em termos de estrangeiros europeus e nao europeus que tiveram oportunidade de frequentar universidades ou que sao mais interessados, a seguir ao Ronaldo vem o Vasco da Gama e ficam-se por ai. De qualquer forma nao tenho duvidas que a figura portuguesa mais conhecida fora de Portugal, e mesmo o Vasco da Gama.
Ha uns dias ouve uma alma que teve uma reaccao diferente. Ao meu “I am from Portugal”, ouvi esta perola: “Ah, Lisbon!”, eu nao queria acreditar e admito, senti-me contente e ate um pouco orgulhosa e pensei “afinal...!”, mas a seguir ouvi a verdadeira perola: “ You were colonized by France, I know!” e so consegui articular um “no, sorry you are wrong, we were never colonized, i am really sorry” e a desilusao no rosto do nepales!
Passados uns dias encontro-o de novo e vem dizer-me “Macau and Goa, sorry...” e ja nao continuei a conversa com receio do que pudesse sair dali. Pelo menos foi tentar saber e aprender, mas a Franca!! Logo a Franca!! Desculpem, colonizados por todos, menos pela Franca!! Ah e por aqui ja ouvi varias vezes a pergunta sobre que lingua e que falamos em Portugal... mas esse assusto dava outro post, o Portugues no mundo... ou o frances de Portugal no mundo!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

domingo, 6 de abril de 2008

domingo, 30 de março de 2008

Ha duas coisas...

... que gosto neste pais:

1. Quem e hindu e hindu, quem e budista e budista e ninguem tenta converter ninguem.
A religiao nao e definitivamente a causa, nem sequer remota, dos problemas deste pais.


2. A relacao de carinho e proteccao que os nepaleses estabelecem com as suas criancas.
Muita, muita pobreza, mas o filho, a filha, a neta, a irma mais nova, o irmao bebe, estao sempre ao colo e sempre protegidas com olhares atentos, da mae, da avo, da irma, mas tambem do pai, do irmao e do avo. A espontaneidade com que os homens demonstram amor e carinho pelas suas criancas, e surpreendente.


E tirando isto, estamos quase no dia das eleicoes. 10 de Abril.

terça-feira, 25 de março de 2008

segunda-feira, 24 de março de 2008

domingo, 23 de março de 2008

Ausencia

A minha ausencia deste blog e da vida das pessoas que me sao mais proximas, nao foi de forma alguma, planeada e escolhida.
Nao tenho ambicoes a ermita e a minha vontade de socializacao continua intacta e igual ao que sempre foi.
E agora por onde comecar?
Comecar pelo facto de nao ter tido acesso a internet durante uma semana e pelo facto de que quando tive essa hipotese estava tao cansada que nao conseguia raciocinar e os mails para casa limitavam-se ao “esta tudo bem”...
Ah, ja agora, quando cheguei ao distrito que me estava destinado, Dhankuta, tive o prazer de verificar que a minha falta de capacidade com tecnologias nao era o motivo de nada funcionar aqui. O “nada” refere-se a parafernalia de equipamento com que me presentearam em Katmandu.
Demorei 1 semana a descobri como e onde podia ter internet (e nao foi com o equipamento que me ofereceram!), mas apos a descoberta da polvora, faltava-me o tempo. Hoje e dia livre, com uma reuniao ao meio dia e e so. O fim de semana aqui resume-se ao sábado. Domingo toda a gente trabalha, e dia normal de aulas, de reparticao de financas aberta… e um dia de trabalho normalissimo.
Acho que se ficasse aqui mais de 3 meses, isso seria coisa a que nunca me habituaria… fds de 1 dia.
Caindo na tentacao de fazer deste blog um diario, sai de Katmandu e fui para Biratnagar. Esta cidade fica na zona mais oriental do Nepal. A 3 kms da fronteira com a India. E a segunda maior do país e a mais industrializada. Nao e bonita e nao tem interesse nenhum, mas houve uma coisa que me fez ficar feliz quando la cheguei, a quantidade de carros, muito, muito menos carros que em Katmandu e consequentemente, muito menos poluicao. Em vez disso dezenas e dezenas de bicicletas e muitas vacas a passearem por todas as estradas.
A cidade e muito quente… sim, o Nepal tambem tem zonas quentes e planas. A grande maioria da populacao vive nessas zonas, a percentagem de nepaleses que vive nas montanhas e minima quando comparada. O que esta a volta sao campos e mais campos de arroz… e e so.
Depois de mais uma semana de briefings em Biratnagar, vim para Dhankuta.
Dhankuta e uma pequena cidade (ou vila ou aldeia ou pequeno aglomerado populacional ou qualquer coisa com pouco do conceito europeu de cidade), que fica numa regiao de colinas. Melhor, a regiao e considerada como sendo de colinas, mas para mim que sou portuguesa, nascida e criada em Portugal, colinas de 3000m e 4000m nao sao de todo colinas, sao montanhas e grandes! De qualquer forma, aquí o que e considerado montanha e ainda mais alto...
Quando aquí cheguei uma das 1as coisas que reparei e que os rostos das pessoas sao completamente diferentes de Katmandu ou Biratnagar. Ate aqui a grande maioria dos nepaleses para quem olhava pareciam-me indianos, completamente indianos. Tambem estao aqui e nao sao tao poucos como isso, mas para alem desses muitos outros parecem saidos de países de estepes… sao totalmente mongois (e nao sei se esta e a definicao certa, admito a minha ignorancia), de olhos rasgados e sem nada de indiano.
A complexidade social deste país e quase asustadora. A populacao divide-se em castas, grupos étnicos e se outros factores houver para criar diferencas, nao vao ser deixados de lado. Nunca tinha tido contacto com uma sociedade tao rigida, tao estratificada, tao hierarquizada.
As castas… por muito que tente compreender e encarar como uma diferencia cultural, com tudo o que possa ter de criticavel, nao consigo, deixar de sentir repulsa por este sistema. Filho de pedreiro vai ser pedreiro toda a vida, filho de medico, será medico, filho de campones, camponeses… casamentos entre diferentes castas sao raros e desencorajados.
No topo estao os Brahman e os Chhetri (Hindus e homens), depois os Rai (descendentes de tibetanos e de outros povos oriundos de zonas de estepes), na base desta piramide e considerados impuros mas tocaveis estao os mulcumanos e os estrangeiros. No fim e bem no fim, estao os Dalit, impuros e intocaveis. Intocaveis porque sao tao impuros que nao sao sequer merecedores de toque.
A condicao das mulheres e difícil de descrever e quase me faltam palavras porque a tendencia e escrever 2 ou 3 frases cheia de adjectivos. Basta dizer que ser mulher ja de si e um pecado, no caso de se ser mulher e Dalit, o pecado e duplo.
Sou a única estrangeira nesta aldeia, os nepaleses com que trabalho sao exclusivamente homens e sao uma elite, obviamente. O meu assistente e nepales e muitas vezes em vez de falarem para mim e para ele que falam, e uma luta constante para tentar que tentem assimilar o facto de que e com a mulher que tem que falar. Colegas homens que estao noutros distritos, estao bem integrados na comunidade e nos ambientes de trabalho, sao convidados para as celebracoes religiosas e outros eventos que possam acontecer. Nem eu, nem nenhuma das outras colegas que estao em distritos, foi convidada para o que quer que fosse. Nao sao hostis para nos, mas simplesmente somos mulheres e aceitam-nos no ambiente de trabalho porque a isso sao obrigados.
Pessoas que conheci em Timor e que tinham estado em Africa, referiam muitas vezes que os timorenses eran muito fechados. Eu que vivi em Timor 7 meses e que agora estou no Nepal, acho que Timor era um paraíso. Um paraíso com problemas mas um paraíso. Uma sociedade predominantemente masculina onde ainda se compram noivas com bufalos, mas muito mais aberta e propensa a evolucao social e a dar hipoteses as mulheres do que neste país.
Aqui as pessoas em geral sao muito fechadas e a distancia que mantem e grande. Nao se aproximam nem deixam que delas se aproximem. Os poucos contactos mais próximos que consegui ir tendo com nepaleses, deixam perceber que uma vez conquistada a confianca sao pessoas afaveis e que gostam de receber, mas ate la… o caminho a percorrer e longo, mais longo ainda quando se e mulher. A excepcao e sempre a mesma... as criancas, muito mais timidas aqui que em Timor, mas sem palavras.
E depois quem ve de fora nao percebe a aceitacao dos maoístas e o apoio que lhes e dado. Porque e que os maoístas tem um exercito cheio de mulheres e porque e que, ao contrario do que se pensa muitas vezes, nao precisam ser financiados pela China ou por quem quer que seja, porque acabam por vingar como movimento espontaneo e autónomo. Estando aqui e olhando a volta, nao e difícil perceber os porques… E quanto a influencia chinesa, nao me parece que seja assim tao grande, ao contrario do que eu propia pensava antes de aqui chegar. Ha influencia externa sim, mas indiana. Quando se diz que o Nepal e “landlocked”, os nepaleses costumam dizer que essa afirmacao esta errada, porque na realidade o país e “Indialocked”.
Ainda em relacao ao sistema de castas, ja falei sobre esta questao com alguns nepaleses e a ideia que tentam sempre transmitir e que hoje m dia so em alguns meios rurais mais remotos e que existe quem de crédito a esse sistema, porque com a tentativa de democratizacao e com o aumento do numero de criancas a ir a escola e a receber educacao a aumentar, o sistema esta cada vez mais em descretito.
Honestamente, acredito que muito lentamente alguma coisa va mudando na mentalidade destas pessoas, mas este discurso parece-me mais uma tentativa de nao se distanciarem dos sistemas acidentais, de fazer parecer que a estrutura social aqui, afinal nao e assim tao diferente, porque na realidade nao me parece que seja assim tao linear.
O meu assistente disse-me uma vez que ele e a familia tinham adoptado uma menina Dalit. Ontem referi-me a essa crianca como “a tua filha”, ao que ele respondeu: “ela esta la em casa e cuidamos dela, mas filha so tenho uma, ela nao e minha filha”. O nepales responsavel por todo o proceso eleitoral num distrito onde esta uma das minhas colegas, disse-lhe que ela nao deveria cumprimentar as mulheres que fazem a limpeza ao escritorio… estará o sistema a cair de facto em descretido? Nao me parece…
Prometo ir escrevendo mais, sempre que possa, entretanto tenho a dizer que dado o tamanho avantajado deste post, todos aqueles que tiverem a paciencia de ler isto ate ao fim, receberao um presente directamente do Nepal.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Survivor

Hoje descobri que existe uma serie de equimento e tecnologia, de cuja existencia eu nao suspeitava nem em sonhos.
Parece que vou ter que utiliza-la, quer dizer, tenho a secreta esperanca de que nao vou precisar daquela tralha toda e ja tenho alternativas, algumas…
Uma placa chinesa para ter net em quase todo o lado. A plaquinha instala-se no pc e depois puxa-se a sua pequena e fragil atena e net! E caso a zona seja tao remota que esta maravilha nao funcione, “oferecem-nos” uma coisa chamada Bgan, que custa 5000 dolares (em euros seria uma pechincha, visto o preco do dolar), que e um aparelho com uma bussola para acharmos nao sei que ponto, para virar aquilo para depois ter um sinal qualquer a partir de um satelite qualquer… que vai permitir ter net. Isto significa que e possivel ter net no meio da montanha, da selva, do deserto, literalmente em todo o lado.
Deve ser lindo viver numa aldeia sem electricidade, onde so se encontra arroz e lentilhas para comer, para a qual nao ha estradas e se vai a pe ou de burro porque nem ha sitio para o helicoptero aterrar, e poder fazer transferencias bancarias, pagar sei la o que ou enviar emails para casa. Ah, o facto de nao haver electricidade nao e problema, e que dao-nos 2 paneis solares de celulas nao sei que, que custam nao sei quanto e que se poem a funcionar nao sei como.
Claro, mais o telefone satelite, o telefone normal, o radio normal e o radio evoluido de antena gigante.
Falta so falar do kit de campismo… um fogao a querosene que ninguem consegue por a trabalhar (como eu gostava que fosse um camping gaz!), uma lamparina tambem a querosene, um saco-cama, tenda, uma lanterna, um aquecedor e mais umas coisas pequeninas. Ha ainda os packs de racao do exercito frances para alguma emergencia e o kit medico, com umas ligaduras, betadine, comprimidos etc.
O camping kit so pesa 20 kgs. E esta a estimativa porque ainda ninguem se atreveu a pesa-lo
Ah, claro e o computador.
Ah, e as minhas malas.
Ah, e alguma comida para levar para o distrito, para nao estar so a viver de arroz e lentilhas.
E agora pega la nisto tudo e vai para o mato.

PS – As alternativas de que falo no inicio sao velas e latas de atum. Tenho a dizer ainda que o titulo da minha funcao deveria incluir qualquer palavra relacionada com engenharia.

...




terça-feira, 4 de março de 2008

De Katmandu

Prometo colocar aqui mais fotografias.
A ligacao aqui e bastante lenta e tempo nao tenho muito. Tenho tido dias de 48 horas...
Dia 10 deixo Katmandu e vou para a regiao de Biratnagar. Uns dias depois para o distrito de Dhankuta.
Adoro os nomes neste pais, parecem tirados de um filme como o Senhor dos Aneis... e so imaginar estes nomes ditos com entoacao de palavra de Tolkien.
Podia escrever um post enorme sobre o que estou achar deste pais, de qualquer forma acho que a minha primeira impressao, e que concerteza o reino xangrila-nirvana-budista-zen-paraiso do treeking, pode existir algures no mundo, mas nao sera aqui concerteza.
A situacao e violenta, instavel, muito volatil. Castas, discriminacao etnica, minas (sim, ha minas no Nepal), grupos armados que ninguem controla, varias linguas etc. A prova que o facto de um pais nao ter sido colonizado nao e sinonimo de paz, desenvolvimento e prosperidade. Nao houve colonizadores a deixar para tras vias de comunicacao ou infra-estruturas, construidas para a sua administracao, nem houve o inimigo comum para expulsar. Nao estou a defender a colonizacao, mas nada e linear. Nada.
Nao e o Congo ou o Chade, mas esta muito, mas muito longe de ser um paraiso.
Nao que nao soubesse ou nao tenha lido antes de decidir vir para aqui, mas a realidade acho que e ainda mais complexa do que eu julgava que seria. Atrevo-me a dizer que e mais complexa que a timorense, o que e completamente discutivel, nem sequer comparavel tenho essa nocao, mas talvez porque Timor foi a experiencia que tive ate aqui, nao consigo, mesmo que inconscientemente, deixar de fazer comparacoes, embora as saiba descabidas e desprovidas de sentido.

PS - Desculpem nao responder de maneira personalizada a cada comentario que aqui me deixam, mas agradeco muito, mesmo muito. So nao o faco porque a ligacao e lenta e o meu tempo curto. Ja agora o facto de os comentarios terem que ser aprovados, e apenas para eu ter a garantia que os leio a todos. Desculpem tambem os textos se calhar menos bem escritos, e nem vale a pena falar do tempo outra vez... mas acho que e melhor que nada..!

...




sábado, 23 de fevereiro de 2008

Katmandu

Gente, gente, gente e mais gente. Acho que nunca na vida tinha visto tanta gente junta. Gente por todo o lado, nas ruas, nas lojas, nos carros, nao ha canto sem gente.
Poluicao, muita, imensa. Barulho ensurdecedor, buzinadelas a toda a hora, gente a falar, gente a cantar e mais buzinadelas. Filas e filas de carros parados nas bermas das estradas, filas de 4, 5 dias, as vezes uma semana, sao filas para os combustiveis. Nao ha gasolina nem gasoleo. O que chega nao e suficiente e o Estado raciona o que ha, ha quem diga que demais.
Pedintes e mais pedintes e no meio dos pedintes oferta constante de haxixe.
Restaurantes com comida italiana, mexicana, espanhola etc.
Turistas e mais turistas. Muitos americanos. Lojas com material de trekking e tecidos tipicos. Muitos hoteis. Tudo muito barato.
Isto e a zona turistica, ainda nao sai porque a papelada para tratar entretanto e infindavel.
Muitos boatos sobre o sul, a zona do Terai na fronteira com a India, e os problemas que por la acontecem. Greve geral, confrontos com a policia, falta de tudo. Possibilidade de adiarem as eleicoes pela terceira vez.
Dia 10 e suposto ir para um dos distritos mas ainda nao sei para qual. Ate la veremos o que acontece.

PS - Desculpem a falta de acentos e cedilhas mas com estes teclados e impossivel...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

"É vento que te corre nas veias"

Amanhã parto para o Nepal (ou logo).
Só há pouco terminei de fazer a mala. Agora olho para aquela mochila e tenho a sensação que a minha vida está lá dentro. Não é nova a sensação, senti exactamente o mesmo quando fui para Timor. Não são as roupas, os livros, o calçado e as minhas tralhas, são os meus sonhos, esperanças e expectativas.
Estou feliz. Gosto de voltar, mas começo a perceber que gosto mais de partir. A minha mãe disse ontem que está desconfiada que nas minhas veias não corre sangue, mas vento… vento que me leva para longe e não me deixa ficar no mesmo lugar.
A minha mãe encontra cada metáfora!

Amanhã: Lx - Frankfurt ------ Frankfurt - Doha ------ Doha - Katmandu
E dia 22 começa uma nova história.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

SOS

Trolley?! Mochila gigante de campismo?! Trolley e mochila mais pequena?! Mochila grande e trolley pequeno?! Mochila gigante com rodas de trolley?!

ODEIO FAZER MALAS, sobretudo quando já experimentei várias opções e nenhuma se revelou agradável, ou pelo menos, não desagradável…! Resultam sempre em costas doridas, braços amassados e ombros torturados!

Aceitam-se soluções/sugestões para o "problema".

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

E agora?

E agora é para aqui que vou:
Nepal
(Até incluo mapa de localização para se alguém estiver perdido... sim, é aquele bocadinho ali... em cima da Índia, que quase parece parte da Índia! bolas, é pequeno mas não é assim tão difícil! ali entre a China e Índia, aquele rectângulo!)

Mais informação:
" O Nepal é um pequeno país localizado no sul da Ásia, entre a Índia e a China (Tibete). O seu tamanho contrasta com uma superpopulação estimada entre 22 e 23 milhões de habitantes. O país é costeado pelas altas montanhas do Himalaias, com vários picos de mais de 6000 metros de altitude, destacando-se entre estes o Monte Everest, o ponto mais alto da Terra (8.848m). A capital é Kathmandu, com aproximadamente 800 mil habitantes. Divide-se em 14 Estados e 75 Distritos."

Resta acrescentar que não vou trabalhar em Kathmandu, vou trabalhar num dos 75 distritos e a minha equipa será composta por mim e... um local.
3 meses no mínimo.
Sem estradas, com muitos kms para andar, com muito calor ou muito frio e com a real possibilidade de ser a única estrangeira no meu distrito.
Teste à minha resistência física e mental? Sim, sem dúvida.
Maluquinha da cabecinha...? talvez, mas estou ansiosa.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Diário-de-fim-de-semana

Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx…

Fartos? Eu talvez venha a ficar, é só o 3º fim-de-semana e já só faltam 4 meses. Esqueci-me de acrescentar as incursões por Montemor-o-Velho-Lousã-Figueira da Foz, por uma qualquer ordem indefinida que encaixa quando é possível encaixar.
Já decidi, quando for grande vou inventar o tele-transporte.

Até lá, Lx-Coimbra, Coimbra-Lx.

(PS – Os tracinhos no título aparecem porque por alguma razão acho que fazem sentido neste post… muito!)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Decisões

"Decidir: determinar; resolver; deliberar; emitir juízo; sentenciar; dar a preferência".

Esta foi a definição mais curta que encontrei nos dicionários aqui de casa. Havia maiores mas não vale a pena, porque quanto mais palavras, mais sinto o peso das decisões que tomei hoje, ou não. Na realidade a minha consciência diz-me que isto da quantidade de palavras é apenas um artíficio para me convencer a mim própria que as decisões que tomei hoje, não são tão importantes assim...
Isto de ser adulto e não ter ninguém a decidir por nós custa, e custa mais ainda quando não temos a certeza de ter tomado a decisão certa.
Utilizando uma das palavras da definição, sentenciamos caminhos e utilizando outra, determinamos experiências e ao dar a preferência a umas, eliminamos outras. Recusamos hipóteses, recusamos pessoas que não chegámos sequer a conhecer, recusamos outra vida. E pior, não podemos ficar a pensar nisso, senão não conseguimos percorrer o caminho escolhido. Escolhido com o nosso livre arbítrio e com a nossa racionalidade, às vezes com a nossa intuição. Se pensamos muito, a vida passa e não a sentimos, porque estamos a resolver o passado que não chegou a ser presente e o futuro que nunca vai ser passado. E a vida não se compadece com tanto tempo para reflexões, porque passa sem olhar a quem.

Hoje escolhi o caminho menos iluminado, escolhi o caminho com mais incertezas, escolhi o caminho com mais curvas. Escolhi com a minha intuição, escolhi com o meu instinto.
Escolhi com os meus sonhos. E faz sentido questionar-me se escolhi com os meus sonhos?

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

E por entre canela e açúcar em pó...

E por entre canela e açúcar em pó... revi 2 caras de Baucau. Foi divertido e foi muito bom recordar. E antes por entre canela e açúcar em pó que por entre "ballot boxes" ou pedras. E como a minha inspiração hoje é inexistente tenho que referir que a expressão "por entre canela e açúcar em pó" foi do Maurizio, o meu querido amigo Maurizio, que referiu muito bem que nos faltava a mana Sílvia e que, a expressão "antes assim que por entre ballot boxes ou pedras" foi do Filipe, o defensor da Pátria.
Mas faltaram pessoas... tantas, a mana Sílvia, a Alexandra e a Gui e até quem pouco tempo esteve em baucau mas que permaneceu num lugar especial, como o Florian e a Ana.
Acho que estou melancólica e tenho saudades!! e acho que este blog está mesmo a tornar-se um diário... sou realmente muito pouco disciplinada.
E agora? o que virá a seguir? talvez alguma coisa, mas é melhor ainda não falar disso.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

E não faz mal...

Nunca fiz deste espaço um espaço intimista, muito menos uma espécie de diário onde conto que hoje fui ao cinema e hoje estou triste e amanhã vou ao parque, etc etc. Se calhar hoje vou quebrar essa espécie de regra que criei para mim mesma. Não vou reler o que vou escrever, não vou escrever 1º no word, vai ficar tal e qual, vai ficar mal escrito, entediante, pouco elaborado e não faz mal. Sei exactamente quem são as pessoas que aqui vêm ler estas coisas que me passam pela cabeça, posso dizer o que me apetecer e não faz mal.
Talvez devesse fazer um balanço de 2007, Natal, fim de ano, época de avaliações e renovação de sonhos e esperanças. Sei e quem me conhece bem sabe que o ano que passou para mim foi totalmente marcado pela minha experiência em Timor. Por vários motivos, porque conheci outra realidade, porque aprendi com o país, sim, por estranho que pareça, aprendi com aquele país, porque aprendi com muitas pessoas que conheci. Fiquei mais rica como pessoa, fiquei com a certeza que há seres humanos fantásticos. Não vale a pena dizer nomes, mas há pessoas que vão para sempre ficar guardadas no meu coração. Se calhar sou demasiado sentimental, porque sei que aquele sítio e aquelas pessoas nunca mais, talvez devesse esquecer. Aprendi mais sobre mim própria, aquilo que sou e não deveria ser e aquilo que sou e não deveria ser, mas que no fundo tenho orgulho em continuar a ser. Confuso, talvez, mas é verdade.
Não sei o que vai ser 2008, não faço a mínima ideia, tenho planos e objectivos e isso para mim de momento basta e se aprendi em 2007, espero aprender mais em 2008. Espero não encontrar idiotas que descobrem 4 anos depois que é de mim que gostam e não despertar ao fim de 4 anos a olhar para idiotas completamente superficiais e egocêntricos esteticamente agradáveis à vista mas vazios por dentro e ter que ir para uma ilha perdida a 22 mil kms de casa para olhar para esses mesmos idiotas. Podia ainda acrescentar não olhar para idiotas filhos de judeus e até não fazia mal porque sei que nenhum dos 3 idiotas põe aqui os olhos.
E para dizer a verdade podia ainda falar de outras pessoas que se revelaram idiotas, mas para quê, não vale o esforço.
Vou ler mais ainda, vou ver os filmes que queria ver e nunca vi, vou dar ainda mais valor aos meus amigos que sei que o são, não vou gastar energias com os outros. Vou mimar a minha família, vou fazer o raio do mestrado, vou cozinhar muito porque gosto, e beber muito chá também porque gosto, vou fazer loucuras (dentro do meu conceito de loucuras) e o que me apetecer.
E se hoje estou triste e não vale a pena dizer porquê, não vale também a pena fazer deste espaço um repositório de lamentações, sei bem que amanhã o sol nasce de novo e sei bem que, como dizem os ingleses "the grass is always greener where it rains", e não tenho dúvidas. E também não tenho dúvidas que este post é de fugir, mas apetece-me e não faz mal.